‘Foi a cultura que manteve a sanidade mental de muita gente durante o isolamento’, afirma Leandro Hassum

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Marcado pela pandemia, 2020 já é tema de uma retrospectiva na TV. Mas é revisto de uma forma inusitada. Com apresentação de Leandro Hassum, 2000 e Vishhh estreia nesta segunda, 23, na TNT, lançando um olhar bem-humorado para um ano tão difícil. Usando o formato de stand-up, Hassum, a partir do estúdio, fala de temas do confinamento, com ajuda de memes, vídeos que viralizaram e a participação de convidados especiais de maneira remota, como Gretchen, Maitê Proença, Rafael Portugal, Rubens Barrichello, Compadre Washington, Wanessa Camargo e Sérgio Mallandro.

“No programa, a gente fala muito do isolamento e nada da doença. Logicamente, ela é o pano de fundo, mas não tem como tirar piada de uma doença que tirou mais de 160 mil vidas (no Brasil)”, diz Hassum, em entrevista ao Estadão por videochamada. “Então, toca nesse ponto de contato que todos nós temos de alguma forma, independentemente até da classe social, que é o momento do isolamento. O isolamento rendeu muita piada, muito meme, muita gente aprendendo a fazer pão, ioga, meditação.”

Serão quatro programas, que vão ao ar toda segunda-feira, às 23h30, e abordam as diferentes fases do confinamento. “Num primeiro momento, todo mundo achava que ia durar 15 dias, 20 dias no máximo; aí bota live de sertanejo, faz artesanato, fica com a família em casa; depois fala que já estão chatas essas lives; agora usa máscara ou não usa máscara, vai ao mercado ou não vai ao mercado. Então, os programas são meio que divididos por esses períodos”, explica.

“E termina falando da vacina, da possibilidade da vacina, das ideias loucas, das fake news. Não tocamos em política em momento algum. Não é um programa que vai ter viés político. Aliás, só se faz isso hoje, o humor parece que virou mais uma parte jornalística. Não estou nem dizendo que não tenha que ter, mas acho que está um pouco demais, está over. A gente resolveu não fazer. É uma questão minha: não quero falar de política e da doença.”

O programa de estreia, que vai ao ar nesta segunda, traz como convidados Rubens Barrichello, que, da Argentina, participa do quadro Aconteceu ou Inventei; e Rafael Portugal e Compadre Washington, que interagem e falam como a pandemia os afetou. E pegando carona nas histórias engraçadas/bizarras que aconteceram em videochamadas, Compadre Washington mostra que está de sunga para dar aquela entrevista a distância.

Ainda sobre os participantes, Hassum destaca a presença virtual de Maitê Proença em um dos programas. “Para mim, é um dos melhores. Ela mostra como fazia faxina e ginástica ao mesmo tempo. Eu consegui fazer a Maitê subir na mesa e fazer faxina com abdominal na casa dela. Então, o que 2000 e Vishhh traz são possibilidades que talvez eu jamais conseguiria.” Já com Gretchen, o humorista dança Conga, Conga, Conga: ele no estúdio e ela via Zoom. “Perguntei para a Gretchen como foi o isolamento? Ela disse que adorou, porque ajudou ela a conhecer mais o cara com quem casou. Ela acabou ficando no isolamento seis meses antes de se casar com o cara. Ela disse: ‘se aguentei ele seis meses, é porque vai dar certo’.”

O humorista também compartilha suas histórias de isolamento. Como quando ligou para a tia pedindo para ela não sair de casa, por ser de grupo de risco. “Ela disse: ‘Meu filho, tenho 88 anos, sou grupo de risco desde os 80. Se espirrar com força, eu morro, me deixa em paz que eu vou sair’. Que argumento eu uso para ela agora? ‘Então, tá, titia, bota máscara, passa álcool gel e vai’.”

Ele conta que gosta de fazer “humor de identificação”. “Quero que as pessoas que vão assistir ao 2000 e Vishhh se identifiquem com as histórias. Digam: ‘aqui em casa também passamos por isso durante o isolamento’.”

A ideia de 2000 e Vishhh surgiu quando a segunda temporada de Tá Pago, que Hassum apresenta também na TNT, precisou ser adiada por causa da pandemia. Na atração, ele recebe vários convidados que se sentam à mesa, conversam e comem.

Para Hassum, Tá Pago é um tipo de programa que não dava para ser adaptado e realizado com convidados a distância. “É a gente jantando numa mesa. Quando chamamos amigos para jantar, queremos estar à vontade e não poderíamos estar à vontade neste momento, jantando comidas requintadas, enquanto sabemos que existe muita gente que não tem nem o que comer na mesa. Então, é o bom senso que tem de imperar nessas horas”, diz ele, que já estava no Brasil, vindo dos EUA, onde mora, para gravar o programa quando soube que essa temporada ficaria para o ano que vem.

Fora da Globo desde 2019 e há anos afastado de Marcius Melhem, com quem dividiu a cena em programas como Os Caras de Pau, Leandro Hassum não quis comentar sobre as denúncias de assédio moral e sexual contra Melhem, também humorista e ex-diretor de Humor da emissora. “Eu não falo sobre esse assunto, até por não ter mais relação nenhuma (com ele). Peço desculpa, mas é uma postura que estou tomando.”

Sobre os aprendizados da pandemia (e do isolamento), o humorista acredita que ficam três “legados positivos”. “Ficou comprovada a importância da cultura, da saúde e da educação. Se existisse alguma dúvida ainda disso, acho que agora foi o golpe fatal”, afirma. “Espero que as pessoas comecem a respeitar mais a cultura, porque foi a cultura que manteve a sanidade mental de muita gente durante este período em casa. Se a cultura morrer, o povo morre junto.”

Fonte: Terra.

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