Conheça a trajetória de Joseph Safra, o homem mais rico do Brasil

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Faleceu hoje, aos 82 anos, de causas naturais, Joseph Safra, o homem mais rico do Brasil e o banqueiro com maior patrimônio do mundo.

Nascido em 1938, em Beirute, no Líbano, e naturalizado brasileiro, Safra foi uma figura bastante reservada durante toda sua vida. Ao contrário de outros bilionários, ele era avesso a entrevistas, aparições midiáticas e posicionamentos polêmicos.

O banqueiro residia em uma mansão de 130 cômodos, distribuídos em cinco andares e 11 mil metros quadrados no Morumbi, um dos bairros mais nobres de São Paulo. Corintiano, casado com Vicky, pai de quatro filhos e avô de 14, Safra era chamado de Zé pelos mais íntimos e se deslocava pela cidade apenas de helicóptero.

A postura de discrição e comunicações concisas renderam ao banqueiro a imagem de alguém inabalável e inatingível que, com punho de ferro, comandou um império financeiro que começou com o pai, Jacob Safra, no início do século 1920.

Após a Primeira Guerra Mundial, Jacob se mudou da Síria para o Líbano e fundou, na capital Beirute, o Jacob Safra Maison de Banque. No começo dos anos 1950, após o fim da Segunda Guerra Mundial, marcada pela perseguição aos judeus, o empreendedor imigrou com a família para o Brasil, com medo de um terceiro grande conflito armado. Em 1995, fundou no país o Banco Safra, com uma operação que se resumia a sete funcionários.

Junto ao pai, os irmãos Joseph, Moise e Edmond dividiam o comando das operações do banco no Brasil e no exterior. A instituição sempre foi sinônimo de gestão conservadora: um reduto para grandes fortunas, investimentos e crédito para negócios de médio porte.

O filho mais velho, Edmond, ávido pelas operações internacionais, fundou em 1966 o Republic National Bank of New York, instituição que se tornou referência para operações que envolviam ouro. Em 1999, o banco foi vendido para o HSBC – o que, segundo rumores, teria causado desavenças entre Edmond e Moise.

O primogênito foi assassinado em dezembro de 1999 em seu apartamento, em Mônaco, onde vivia com a esposa Lilly, por um enfermeiro que trabalhava para o bilionário, diagnosticado com mal de Parkinson.

DESENTENDIMENTOS E SUCESSÃO

A tragédia familiar marcou o começo de uma disputa entre os irmãos Joseph e Moise quanto à divisão da fortuna da família. Na época, Joseph comandava as operações do Banco Safra no Brasil e queria comprar a parte de Moise, menos envolvido nos negócios. Diante do impasse nas negociações, Joseph fundou o J. Safra, uma instituição financeira que propunha uma atuação similar para fazer frente ao banco da família. Apesar da pressão, apenas em 2006 Moise aceitou vender sua parte para o irmão.

Em 2008, ano marcado pela crise financeira da bolha imobiliária norte-americana, Joseph Safra se preparava para passar o comando das operações da família para seus três filhos, Jacob, Alberto e David – algo que acabou não acontecendo em função do momento conturbado. Joseph era a cara da instituição no mercado e, naquele cenário, a prioridade era manter a confiança dos clientes nos alicerces inabaláveis do Banco Safra.

O processo de sucessão foi retomado em 2013 depois que o banqueiro adquiriu, no ano anterior, o banco Sararin, de origem suíça, em uma transação avaliada em US$ 1,1 bilhão na época. A nova marca internacional impulsionou o volume financeiro sob gestão da família.

Os três filhos homens de Safra estiveram juntos por seis anos no comando do banco até que, no quarto trimestre de 2019, Alberto deixou a instituição. O movimento gerou certo burburinho de que Alberto e David, que dividiam a administração no Brasil, nutriam desentendimentos sobre a gestão. Por meio de um comunicado oficial, Joseph Safra disse que a saída do filho era exclusivamente para se dedicar a outro projeto junto a família.

Diagnosticado com mal de Parkinson, assim como seu irmão Edmond, Joseph passou os últimos anos em sua mansão com a família. Sua única filha, Esther, é casada com Carlos Dayan, do banco Daycoval, e dirige a escola judaica Beit Yaacov em São Paulo.

A TROCO DE BANANA

Em 2014, Joseph se aventurou com José Luís Cutrale – colega do clube do bilhão e proprietário de uma das maiores fabricantes de suco de laranja do mundo – na compra da Chiquita, maior produtora de bananas do planeta.

A negociação durou três meses. Na época, a empresa chegou a anunciar uma fusão com a irlandesa de produtos frescos Fyffes, mas os brasileiros ofereceram mais pelas ações e acabaram levando. Após três ofertas recusadas, a Chiquita foi finalmente adquirida por US$ 1,3 bilhão. Joseph, que detém 50% do negócio, viu o movimento como uma diversificação do portfólio de empreendimentos da família.

VIDA DISCRETA, IMÓVEIS EXTRAVAGANTES

Ainda em 2014, Joseph começou a atuar em investimentos imobiliários e, por meio do Grupo Safra, adquiriu o icônico edifício de escritórios 30 St. Mary Axe, em Londres, conhecido popularmente como The Gherkin (pepino, na tradução literal). A construção foi projetada pelo renomado arquiteto Norman Foster. Na época, a transação do que era considerado o sétimo maior arranha-céu do mundo foi avaliada em R$ 3 bilhões.

O interesse do banqueiro por empreendimentos em solos ingleses não parou por aí. Em 2019, num local bem próximo ao The Gherkin, o bilionário trabalhou pela aprovação do projeto do arranha-céu batizado de The Tulip, projetado pelo escritório de Norman Foster, o Foster and Partners. Planejada para ter mais de 300 metros de altura, a construção do edifício foi rejeitada pelo prefeito de Londres, Sadiq Khan. Em comunicado, a equipe de Khan concluiu: “Os benefícios públicos do projeto são limitados e não compensariam os danos. Considera-se que a proposta é de baixa qualidade, hostil, proporciona um ambiente desnecessariamente confinado para pedestres e provê estacionamento inadequado para bicicletas”.

O banqueiro também possui outras propriedades comerciais em Manhattan, distrito de Nova York, e no Brasil.

INVESTIGAÇÕES

Em 2019, o nome de Joseph ganhou os holofotes mais uma vez depois que Antonio Palocci fez sua controversa delação premiada. Segundo o ex-ministro, mandatários de instituições financeiras do país – entre elas o Banco Safra -, teriam feito doações eleitorais no valor de R$ 50 milhões para o Partido dos Trabalhadores em troca de favores. Os citados alegaram que as acusações eram falsas e que o ex-ministro buscava criar versões para obter benefícios na Justiça.

FILANTROPIA

Joseph não era reconhecido apenas por ser low profile, mas também por suas iniciativas filantrópicas. O bilionário foi um dos maiores doadores dos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês e financiava a escola dirigida pela filha. Também destinou parte de sua fortuna à construção de uma sinagoga em São Paulo e doou as esculturas de Rodin, que hoje fazem parte do acervo da Pinacoteca da capital paulista, e o manuscrito da Teoria da Relatividade de Albert Einstein que integra as obras do Museu de Israel.

FORTUNA

Desde 2012, quando a Forbes passou a fazer uma lista exclusiva com os bilionários do país, o banqueiro viu seu patrimônio aumentar ano após ano.

Ao longo dos oito anos do levantamento, a fortuna de Joseph cresceu 458,52%, de R$ 25,97 bilhões em 2012 para R$ 119,08 em agosto de 2020, ano em que o bilionário, pela primeira vez, fincou seu nome no topo do ranking com uma diferença considerável para a o segundo colocado, Jorge Paulo Lemann, cujo patrimônio foi estimado em R$ 91 bilhões no período da publicação da lista (agosto de 2020).

Nesta quinta-feira, a fortuna de Joseph Safra está avaliada – no ranking em tempo real da Forbes norte-americana – em US$ 23,2 bilhões (R$ 118,5 bilhões). A diferença para o vice, Lemann, agora é de “apenas” US$ 3,2 bilhões (R$ 16,35 bilhões). Joseph Safra ocupava a 64ª posição entre os mais ricos do mundo.

Safra apareceu pela primeira vez na lista de bilionários do Mundo da Forbes no ano 2000, com uma fortuna estimada em US$ 3 bilhões, dividida entre ele e seu irmão Moises.

Fonte: Forbes.

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