O Sétimo

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Por Steffano Silva Nunes.

“Setembro passou, outubro e novembro. Já tamo em dezembro. Meu Deus que é de nós?”. As palavras de Patativa do Assaré, cantadas por Luiz Gonzaga caberiam muito bem, de forma racional, nesse dezembro que avançamos lutando contra um micróbio. Mas também trazem sempre memórias sentimentais desse último mês do ano. Às vezes relembrando a saga de desafios e de luta do sertanejo que parte em busca de uma vida melhor. Em outras ocasiões, nos lembrando somente que esse mês traz consigo o sentimento de bondade e esperança. Paramos para confraternizar e para refletir pelo último ano que passamos. Dezembro é assim, um período de emoções e de coisas boas juntas.

O hábito de presentear me parece uma constante tentativa de passar para frente e compartilhar todas essas emoções que sentimos. Seria muito bom se tivéssemos a certeza de está atingindo esse objetivo quando presenteamos alguém. Presentes e emoções muitas vezes nos chegam de forma surpreendente. Assim me deparei com o convite para o lançamento da obra literária do escritor, professor, poeta e amigo Altemar Lima, a quem Nauro Machado alcunhou de “poeta-camponês-do-mundo”.

Para quem já se envolve e viaja nas palavras escritas, se vê ainda mais imerso em um turbilhão de reflexões quando a letra resolve falar não só através do seu sentido, mas se materializando no ar através da voz e se difundindo pelos instrumentos, através da música, criando momentos que se eternizam na mente.

Foi nesse clima de tudo junto e misturado de forma perfeitamente harmonizada que a arte da literatura se manifestou no espetáculo “Coisas de caminhar: palavras e canções”, no coração da Praia Grande. A companhia de teatro Primeiro Ato, o coletivo de teatro Nova Cena, a banda Soneto Zero Sete e o próprio escritor através de um singelo e tocante espetáculo deram luz à gestação e pariram diante dos nossos olhos os “Ensaios para a madrugada”, que intitula essa obra em forma de livro.

Prosa e poesia são reunidas pelo autor. Mas mesmo a prosa traz consigo a alma poética. O Eu Lírico inventaria as emoções de toda a vida, externa segredos, tristezas e alegrias. Um desabafo que mantém os questionamentos da vida e da morte se arriscando em deduções: “talvez somente as pedras compreendam a dor da morte”.

A poesia é conhecida como o lar das metáforas, pois sempre diz mais do que alcançamos à primeira vista. A mente se abre quando mergulha nos poemas e compreende sua criticidade: “O que nos torna iguais?”, instiga um desses conjuntos de versos, enquanto outro evoca desejos como quem está “Desejando Mar” e querendo voar a um só tempo. Os “Sortilégios” vaticinam: “A vida chicoteia saudades secretas”.

Para Vinícius de Moraes o material do poeta é a vida, e só a vida, com tudo o que ela tem de sórdido e sublime. Na conta do sublime está o amor, mesmo na tenra idade onde é mais puro e inesquecível: “Lembrou-se da Gleide… Ela era especial… Não podia vê-la na escola que o coração disparava…”

Me encontro envolto na leitura e nas releituras de trechos. A pequena biografia ao final, traz novidades que desconhecia. Considero um presente neste mês de dezembro que sempre me traz importantes datas a relembrar e comemorar. Parabenizo meu amigo poeta por mais esse feito da sua prole literária, pois não é o primeiro e certamente não será o último dos seus livros. É apenas o sétimo de muitos que provavelmente ainda virão nos presentear em outros dias de janeiros a dezembros.

Feliz Natal!

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