Sejam (os) gratos

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Concerto para Natal é obra do compositor italiano Francesco Manfredini, uma das mais belas peças eruditas que fazem recordar em nós os sentimentos a serem enfatizados por ocasião do natal. Entre estes sentimentos, destaco o da gratidão. Afinal, estamos próximos daquele que deveria ser considerado o dia mundial deste sentimento. Deus generosamente ofertou seu Filho amado que, encarnado em forma humana, palmilhou esta terra, promovendo o bem, ofertando graça e misericórdia.

Não por acaso, o Papa Francisco afirmou que “o sentimento de gratidão é a única resposta humana digna do imenso dom de Deus”. Nas palavras do Sumo Pontífice “uma gratidão que, a partir da contemplação daquele menino envolto em faixas em uma manjedoura, se estende a tudo e a todos, ao mundo inteiro. É um ‘obrigado’ que reflete a Graça; ele não vem de nós, mas dele; não vem do eu, mas de Deus, e envolve o eu e o nós”.
Esta é a maior lição do Natal. Ser grato não depende do comportamento alheio. Os generosos e abençoadores não deixarão de sê-lo apenas porque no meio do caminho existem os esquecidos que um dia foram alvos de gestos de grandeza. E esta é uma ocasião para evocar o melhor que há em nós. Não por acaso, a gratidão é o maior de todos os atos, isto porque ela nasce da constatação de que, em algum momento, fomos alvos da bondade de alguém. O Apóstolo Paulo, em sua primeira epístola aos tessalonicenses adverte que em tudo devemos dar graças. A gratidão se traduz em ações diárias, em gestos individuais e coletivos.

Vinicius de Moraes, em seu poema de natal, diz que para isso fomos feitos: para lembrar e ser lembrados. Ser grato é nunca esquecer. Celebrar o Natal é, acima de tudo, agradecer o dom de Deus, seu Filho, Jesus Cristo. Manuel Bandeira, em seu Canto de Natal, lembra que nosso menino nasceu em Belém e que nasceu tão somente para querer bem. Por nós ele aceita o humano destino: louvemos a glória de Jesus menino.

Em seu livro O mistério do Natal, o escritor Jostein Gaarder constata que “Deus veio ao mundo para ensinar os homens a serem bons uns para os outros. É uma missão difícil, mas é a mais importante de todas (…). Quanto mais sabemos, melhor vemos as coisas que nos rodeiam. Por outro lado, quanto melhor vemos as coisas, melhor as compreendemos. Se mantivermos os olhos e os ouvidos bem abertos para o mundo notável em que vivemos, descobriremos sempre alguma coisa pela primeira vez.”

Quem é grato, consegue enxergar – e corresponder – os atos do qual é alvo, sejam grandes ou pequenos. Consegue enxergar a beleza da vida, as benesses da amizade, a bênção de ter uma família. De compreender e reconhecer que nenhuma vitória é singular, posto que todos somos, em maior ou menor grau, dependentes dos outros. Ser grato é manter o coração aberto e contribuir com ações concretas para o bem dos outros. Volto às palavras do Santo Padre, numa de suas homilias: “Deus é de fato, é muito generoso conosco, e nós somos enviados a reconhecer sempre seus benefícios, o seu amor misericordioso, a sua paciência e bondade, vivendo assim em um incessante agradecimento”.

Nunca é tarde para aprender o ofício diário de ser grato. E de retribuir. E de estender as mãos e fazer o bem mesmo àqueles que ainda não alcançaram essa graça de desenvolver a gratidão de forma prática. É, sem dúvida, um aprendizado que só trará benefícios.

A todos e a todas, um Natal pleno, cheio de reconhecimento pelo maior bem que um dia habitou entre nós e que ressurreto, ilumina nossas ações a cada dia.
Sejam (os) gratos!

Natalino Salgado Filho

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* Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA.

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